Michael Palin: “Você tem que sentir o cheiro, olhar para o lugar”
Pela ocasião de sua visita à Toronto, Canadá, Michael Palin recebeu uma medalha de ouro da Royal Geographic Society of Canada.
De acordo com o python, a medalha foi pelas contribuições para a alfabetização geográfica.
Além disso, ele deu uma entrevista ao jornal The Globe and Mail, onde falou sobre suas viagens e o futuro do turismo em tempos de GPS:
Quando começou seu fascínio pela geografia?
Meus pais eram fiéis regulares e eu costumava ouvir histórias das visitas dos missionários. Eles nos contavam histórias de gelar o sangue, como a vez em que um deles perdeu o braço direito em um batismo em massa. Isso era emocionante, as pessoas estavam tentando fazer coisas como explorar o mundo. Não tínhamos encontrado o começo da Amazônia. Ninguém tinha escalado o Everest.
Agora, porém, já descobriram tudo na Terra.
Eu não sei se concordo que cada centímetro já tenha sido explorado. Você pode ver a partir do espaço cada centímetro do mundo. Mas quando você fala sobre colocar os pés, há provavelmente um monte de lugares que as pessoas ainda não conheceram.
PREMIADO
Inclusive, você foi premiado pelos seus serviços à alfabetização geográfica em uma época de Google Maps e GPS, o que isso significa?
Eu não acho que a capacidade de usar os dispositivos do Google seja suficiente. Mais uma vez, eu acho que você tem que ter os pés no chão, acho que tem que ir cheirar, sentir o cheiro da terra, ver, olhar para ela. Esse é o tipo de geografia que eu acho que ainda é importante.
A empresa Google está fazendo um trabalho incrível de mapear e explorar o fundo do mar. Esse tipo de trabalho nos traz de volta à idade da exploração privada, como foi o século XV. Isso te preocupa?
É uma questão importante o poder dessas grandes empresas como a Google. Se esta informação for privatizada, e alguém tem que pagar, e é de difícil acesso ao público, então eles têm um grande controle. A geografia deve ser algo que abre o mundo, que permite que as pessoas possam compartilhar informações.
As suas viagens causam o chamado “efeito Palin”, no qual lugares que você visita de repente se tornam atrações turísticas. Como você equilibra mostrar o mundo às pessoas e transformá-lo?
Eu sou contra a forma mais básica de turismo, onde as pessoas nunca têm a chance de se envolver com o país que estão visitando. Meus programas incentivam o viajante, curioso como eu, a perguntar, não a ver a viagem apenas como uma comodidade.
AQUECIMENTO
Você já viu evidências do aquecimento global em suas viagens?
Você não virar a esquina e dizer: “Uau, ali tem aquecimento global!” Mas, no deserto do Saara, sim, é uma área onde o centro do continente está esquentando e está ficando mais seco. Conhecemos pessoas que, até cinco anos atrás, teria sido capaz de alimentar-se e agora não pode garantir que terá uma boa colheita a cada ano.
Por fim, o crítico britânico Brian Sewell disse que seus programas são “bobagens”, apenas “férias de aventura”. Qual é a sua resposta?
[Risos] Sim, eu acho que ele é um idiota absoluto. Se eu estivesse fazendo um documentário político ou social, eu faria as coisas de forma diferente. Eu só estou tentando aumentar o interesse das pessoas pelo mundo. Eu tenho senso de humor. Ele tem?
(com informações de Sarah Barmak – The Globe and Mail – 28-06-2013)