Analisando a Piada

Analisando a piada – a Teoria da Superioridade

Monty Python faz rir. Isso não se pode negar.

Mas de onde vem esse humor pythonesco, difícil de rotular, ou até mesmo de classificar em algum gênero da comédia?

Monty Python e a teoria da superioridade

Veja Mais Em: Pythoneando 22 – Explicando o Futebol de Filósofos

Desde que conheci o grupo, em meados de 1997, sempre tive uma dúvida: “Por que o que Monty Python me faz rir?”

Foi baseando-se nessa pergunta essencial que criei a seção Analisando a Piada, onde farei o que o próprio nome indica, tendo como base estudos filosóficos, sociológicos, linguísticos e… enfim, estudos pythonescos.

Vou inaugurar essa seção analisando o esquete do Ministro do Andar Tolo baseando-se na Teoria da Superioridade.


No esquete do Ministro do Andar Tolo, a graça aparece no exato momento em que o Ministro dá os primeiros passos esdrúxulos, logo no início do esquete. Por causa disso, o andar defeituoso provoca o riso no espectador.

Segundo Camila da Silva Alavarce, no livro A Ironia e suas Refrações, Thomas Hobbes é o criador de um conceito chamado de “Teoria da Superioridade”, onde o riso estaria associado à deformidade e ao desvio:

O riso é provocado pela visão de alguma coisa deformada em outra pessoa, devido à comparação com a qual nos aplaudimos a nós mesmos. Isto acontece mais com aqueles que são obrigados a reparar nas imperfeições dos outros para poderem continuar sendo a favor de si próprios.

DEGRADAÇÃO

Rir do defeito dos outros nos leva ao chamado cômico de degradação, conceito criado pelo filósofo escocês Alexander Bain, declarando que todo humor envolve a degradação de alguma coisa.

Os atributos solenes e estáveis das coisas exigem de nós certa rigidez, certa obrigação; se somos bruscamente liberados desse constrangimento, surge a reação, a hilaridade.

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Ou seja, a figura autoritária e respeitável de um ministro, ainda mais inglês, cai por terra ao primeiro passo esdrúxulo mostrado no esquete.

Também concorda com o cômico da degradação, mas em uma escala menos degradante, porém mais sarcástica, o filósofo A. Penjon, quando disse que o humor vem à tona quando faz “uma brusca intervenção que desarranja o conveniente, abala a ordem e introduz um puro jogo no que parecia ser seriedade permanente”.

O ministro abalou a ordem natural, e algo que exige certa rigidez (o conveniente) foi desconstruído, a ponto de liberar o espectador dessa rigidez (causando, assim, o riso).

Rimos aqui, então, do nonsense do defeito do ministro, pois a necessidade convencional de agir e falar sempre respeitando a lógica foi atacada. Assim, toda a instituição política que exige dignidade e respeito é exposta ao ridículo.

Thiago Meister Carneiro

Jornalista Especialista em Estudos Linguísticos e Literários, 41 anos na cara. Às vezes grava vídeos para o canal "Monty Python Brasil" no youtube e às vezes assiste Monty Python na Netflix. Autor dos livros "A História (quase) Definitiva de Monty Python" e "O Guia da Carreira-Solo dos Membros do Monty Python".

2 thoughts on “Analisando a piada – a Teoria da Superioridade

  • Malanne

    Sempre encantada e agradecida pelos seus post 🙂 Monty Python é e sempre será referência mundial no quesito humor… parabéns sempre!

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    • O Ministro do Andar Tolo

      Valeu, valeu mesmo!
      Continue ligada que daqui uns dias vai ser lançado um sorteio com alguns produtos pythonescos para comemorar o retorno do grupo!

      Resposta

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