Cotidiano

Terry Gilliam e as 13 cenas mais difíceis de filmar

Foi tendo essas dificuldades em mente, que o site Vulture fez uma simples pergunta a Gilliam: “Quais foram as cenas mais difíceis de filmar?”

E ele não respondeu apenas uma cena, mas treze.

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Ao longo de sua lendária carreira, o membro do Monty Python Terry Gilliam construiu uma reputação como um diretor que gosta de tentar o impossível.

Às vezes, o seu trabalho é difícil porque ele define desafios impossíveis a si mesmo.

DESTINO

Às vezes é difícil porque o destino não colabora, como na fracassada tentativa de filmar O Homem Que Matou Dom Quixote (The Man Who Killed Don Quixote), que literalmente afundou numa enxurrada e acabou virando o documentário Lost in La Mancha.

Em O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus (The Imaginarium of Doctor Parnassus), o ator principal, Heath Ledger, morreu no meio das filmagens, tendo de ser substituído por Johnny Depp, Jude Law e Colin Farrell.

1.

A cena do Ministério da Informação, no início de Brazil, o Filme:

“Tivemos um dia para fazer tudo isso, porque nós estávamos com o dinheiro escasso. O corredor era estreito, e tudo tinha que ser feito com muita precisão. Acho que fizemos a coisa toda em provavelmente dois ou três takes. Era apenas um corredor, mas fizemos com que parecesse ter dois ou mais corredores, tudo muito comprido.”


2.

Jonathan Pryce na sala de tortura,  em Brazil, o Filme:

“Aqui, Jonathan está na grande sala de tortura. O saco sai da cabeça e nós seguimos para trás, revelando a dimensão do lugar. Você pode ver o trilho no chão. Jonathan e os outros atores tiveram que agir em uma velocidade 60 vezes mais lenta do que o normal.

Em duas ou três tomadas, nós fizemos isso. Espero sempre trabalhar com boas pessoas como Jonathan, que podem agir em um slow motion extremo”.


3.

A batalha com o exército turco  nos arredores de Viena, em As Aventuras do Barão Munchausen:

“Tínhamos ido para Espanha a partir de Roma, e as coisas que foram planejadas para serem feitas não deu pra fazer, porque os italianos tinham ocupado todo o bagageiro do avião. O que foi deixado para trás quando deixamos Roma foram os trajes principais. E então chegamos lá, e outra coisa que aconteceu é que houve um surto de febre nos cavalos, o que significava que não poderíamos usar os cavalos que havíamos treinado durante vários meses, e tivemos que pegar aqueles lá que não estavam treinados.

Filmamos tudo em um dia. Foi muito extraordinário”.


4.

A valsa no céu com o Barão e a Vênus, em As Aventuras do Barão Munchausen:

“De certa forma, isso foi muito fácil, porque, na verdade, o Barão e Vênus eram bonecos.

O problema é que a bateria deles era fraca, então eles não moviam as pernas direito.

E também, o cara que concebeu os bonecos, obviamente, os abraçou do modo errado. Na verdade, a Vênus era a líder, em vez de Munchausen, por isso temos a impressão de que ele a estava levando, e não era pra ser assim”.


5.

A grande valsa na Estação Central, em O Pescador de Ilusões

“Tivemos uma noite lá. Isso era tudo o que eles permitem, e não pudemos começar antes das 11:00, e tivemos que sair de lá às 5:30 da manhã.

Tinha mil pessoas lá. A gente foi em todas as escolas de dança de Manhattan em busca de dançarinos.

Quando chegou 11:00, estávamos todos prontos, aí fizemos uma descoberta horrível: a maioria deles não sabia dançar valsa. Nós tínhamos sido enganados! Então tivemos que espalhar nossos coreógrafos em cinco grupos de dançarinos. Cada coreógrafo levou cada grupo.

Acho que por volta de 2:30 da manhã eu finalmente comecei a gritar: ‘É isso! Não há mais tempo para ensinar’.

Então já era 5:00, e muitos usuários da Estação começaram a chegar. Foi uma loucura, mas deu tudo certo.

No final de tudo isso, quando assisti a cena, pensei que a estação não parecia lotada o suficiente. Então eu peguei duas tomadas diferentes e sobrepus uma sobre a outra. Apareceu o dobro de pessoas”.


6.

As cenas no acampamento dos sem-teto, em O Pescador de Ilusões:

“Nós construímos um pequeno acampamento sob a ponte de Manhattan. Na cena, Robin Williams resgata Jeff Bridges, e ele o tira de lá.

Tem vários caras bebendo, e eles eram desabrigados de verdade, principalmente veteranos do Vietnã.

Tinha o Larry, um cara que parecia ser o líder. A gente passou a conhecer todos. Demos-lhes coisas, porque precisávamos de certas coisas organizadas.

Cerca de dois dias antes da noite desta filmagem, chegamos lá e o lugar tinha sido incendiado.

Descobrimos que os outros caras ficaram bravos com Larry, que incendiaram o local. Então tivemos que trazer muitas caixas de papelão e madeira compensada, e reconstruir o acampamento”.

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Eu tenho a força!

7.

A perseguição final com o Cavaleiro Vermelho, em O Pescador de Ilusões:

“Esta cena foi um desafio do ponto de vista da atuação, porque Robin Williams estava rasgando as tripas para fora emocionalmente.

A coisa interessante sobre Robin em todas essas cenas é que ele sempre quis fazer outro take. Ele sentia que tinha ainda mais angústia e dor para demonstrar. E eu tive que impedi-lo. Eu dizia ‘Robin, você já chegou ao ponto máximo, muito além do que esperávamos. Nós temos o que precisamos’.

O último take que tínhamos a fazer era de Robin correndo no final desta cena, em seu estado histérico. Mas Robin estava com tanta raiva porque era um momento tão crucial, e ele sentia que não tinha dado tudo de si.

E Robin era um cara incrivelmente forte: Quando ele trabalhou esse estado de loucura, ninguém podia se aproximar dele. O primeiro assistente, o dublê… ninguém queria chegar perto dele. Eles estavam apavorados.

Então eu tive que ir até lá e abraçá-lo e segurá-lo. Eu podia sentir seus músculos tensos”.


8.

Filadélfia no inverno, em Os 12 Macacos:

“Pouco antes de começarmos a filmar, nevou. Então tivemos que tomar a decisão de manter a cena no inverno ou não. Eu decidi pelo sim.

Aí o sol apareceu e derreteu tudo!

Todos os dias nós tivemos que jogar neve artificial para que ficasse como inverno”.

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Filadélfia no inverno, e no futuro!

9.

Bruce Willis e o urso, em Os 12 Macacos:

“Tivemos um tigre de verdade descendo os degraus do museu. Tivemos elefantes reais atravessando a ponte e tivemos o urso.

Tudo o que havia entre nós e o grande urso de nove metros de altura foi um minúsculo fio eletrificada. Era isso! Nada mais. E a gente tinha que confiar no fato de que o urso foi treinado e sabia que o fio estava lá.

Estava tudo pronto para começar a filmar. Bruce estava preparado para a cena. Ele fez a parte dele.

O urso estava caminhando, fazendo a sua parte. Mas, de repente, ele farejou algo e parou”.

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10.

Jeliza-Rose nada para ver o pai morto boiando em sua cadeira, em Contraponto

“Tideland (Contraponto) era realmente interessante. Estávamos trabalhando com um orçamento baixo e trabalhando nessas cenas subaquáticas. E a garota está nadando para baixo, na direção da escada de cima. Mais uma vez, nós não tínhamos dinheiro para fazer isso de maneira adequada.

Prendemos cada móvel em fios no teto. O iluminador deixou as luzes piscando, então tudo tinha uma sensação subaquática.

Então, a atriz teve de flutuar para baixo. Então, o primeiro assistente do diretor desceu as escadas segurando a atriz Jodelle Ferland em uma posição de natação.

E então, porque estávamos filmando em 72 quadros para retardar os movimentos, ela tinha que falar rapidamente.

Se eu tivesse mais dinheiro, eu não teria feito desta forma. Foi feito assim por pura necessidade”.


11.

Jacob (Heath Ledger) no espelho, em Irmãos Grimm:

“As cenas que eu realmente amo são as cenas com Heath Ledger na torre na câmara com o espelho. Mas nunca houve um espelho lá.

Na verdade, Heath imita ele mesmo no momento em que bate onde teria um espelho. Era tudo falso.

Foi uma loucura o que estávamos fazendo. E todos da equipe disseram ‘Isso não vai funcionar, Terry’.

Mas funcionou”.


12.

Heath Ledger se transforma em Johnny Depp, em O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus:

“Sim. Nós encontramos alguém que era fisicamente parecido com Heath. Foi um choque, pois era como se Heath estivesse lá.

A máscara que Heath usava na cena foi que salvou o filme, pois pudemos fazer a transformação tranquilamente.

O que achei interessante é que as pessoas na plateia realmente achavam que era Heath que estava lá, e se espantaram quando a máscara foi levantada e apareceu o rosto de Johnny Depp”.


13.

As cenas embaixo d’água, de O Teorema Zero:

“Tínhamos um grande tanque, que logo descobrimos que ele estava vazando.

Depois de consertado, trouxemos uma equipe da Inglaterra para fazer as cenas embaixo d’água.

Só que tudo começou a dar errado: Não dava pra ver nada na água! Todo o trabalho de purificação para que a água ficasse clara tinha sido mal feito.

A água estava sendo gaseificada, e ninguém tinha notado isso.

A pobre atriz Melanie Thierry, que já tinha medo de só colocar a cabeça na água, estava tendo um momento ruim, porque a gente tinha um mergulhador amarrando uma corda em sua perna e puxando-a para baixo.

A água era tão impura que nem dava pra ver a câmera lá embaixo. Tudo o que deveria ter sido muito simples, não foi, graças à estupidez de alguém.

Ah, eu esqueci de mencionar que a água não tinha sido aquecida o suficiente. Pobre Melanie!

Thiago Meister Carneiro

Jornalista Especialista em Estudos Linguísticos e Literários, 41 anos na cara. Às vezes grava vídeos para o canal "Monty Python Brasil" no youtube e às vezes assiste Monty Python na Netflix. Autor dos livros "A História (quase) Definitiva de Monty Python" e "O Guia da Carreira-Solo dos Membros do Monty Python".

One thought on “Terry Gilliam e as 13 cenas mais difíceis de filmar

  • Boa tarde em que filme há o enigma « Por que os italianos não fazem/comem churrasco? »?

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