Cotidiano

O Coelho de Caerbannog

No filme Monty Python Em Busca do Cálice Sagrado, os cavaleiros do Rei Arthur são levados para a Caverna de Caerbannog por Tim, o Mago.

A caverna (caer bannog significa “torres do castelo”, em galês) é a casa da Besta Negra de Aaaarrrrgggghhhh, e é guardada por um monstro que é inicialmente desconhecido.

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Tim, o Mago verbalmente faz um retrato de um monstro terrível com “desagradáveis​​ e grandes dentes pontiagudos!” tão aterrorizante que Sir Robin faz cocô em sua armadura.

Quando os cavaleiros percebem que o tal guardião é apenas um coelhinho branco, Arthur e seus cavaleiros passam a não levar a sério os avisos de Tim, o Mago. Então, Rei Arthur ordena a Bors (em sua única aparição no filme, interpretado por Gilliam) para que mate o coelho.

Bors desembainha a espada e aproxima-se, mas é imediatamente decapitado pelo coelho.

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Ao ver a morte do colega, Sir Robin novamente faz cocô em sua armadura. Indignado, o Rei ordena um ataque. O coelho acaba matando Gawain e Ector com facilidade.

A Santa Granada de Mão de Antioquia é, então, usada para matar a fera.

BASTIDORES

A cena do coelho foi filmada do lado de fora da mina Tomnadashan, na Escócia. Ela foi explorada no século passado pelo Marquês de Breadalbane, que buscava ouro e cobre.

O coelho foi retratado no filme por um animal real e também por um boneco. O dono do coelho real ficou bravo com a quantidade de sangue falso que os Pythons encharcaram o bichinho.

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Gilliam disse, em um comentário de áudio do DVD, que a cena foi interrompida para que o elenco tentasse desesperadamente limpar o coelho antes que o proprietário visse, mas foi uma tentativa mal sucedida. A tinta não saiu.

Ele também afirmou que, se fossem mais experientes na produção de filmes, eles teriam comprado um coelho, em vez de alugar. Mas, tirando esse fato, o coelho saiu ileso.

Os efeitos da mordida de coelho foram feitos através de marionetes, por Terry Gilliam e o técnico de efeitos especiais John Horton.

Para o DVD do 25º aniversário do filme, Michael Palin e Terry Jones voltaram a ser entrevistados na frente da caverna, mas não conseguiram se lembrar da localização. Eles subiram e desceram as colinas por horas e, em desespero, pediram ajuda aos moradores locais, dizendo não entender como poderiam ter esquecido, já que há um coelho assassino nela.

A ideia do coelho no filme foi retirada da fachada da catedral de Notre Dame, em Paris, que ilustra a fraqueza da covardia, mostrando um cavaleiro fugindo de um coelho.

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METÁFORAS

O coelho é muito utilizado como uma metáfora para algo aparentemente inofensivo mas que é, de fato, mortal.

Segundo a socióloga Ruth Simpson, em seu artigo “Nem claro, nem presente: a construção social de segurança e perigo”, as percepções de segurança e perigo são produtos da construção social, acordo coletivo, e de socialização.

Enquanto o perigo certamente existe, percepções de perigo não decorrem diretamente da observação do mundo empírico. O ambiente fornece apenas informações inconsistentes e ambíguas, permitindo amplo espaço para crenças socialmente construídas. Três quadros (cauteloso, confiante neutro) organizam as percepções de segurança e perigo. Cada quadro começa com uma suposição padrão sobre segurança e perigo. Na formação de expectativas, esses quadros também contribuem para a percepção de horror, humor, medo, excitação e, finalmente, fobia, como um fenômeno sociológico.

Tais riscos ocultos, mas reais, podem mesmo surgir de animais fofinhos. O humor da encenação vem dessa inversão do quadro usual pelo qual a segurança e o perigo são julgados.

POPULARIDADE

O coelho foi reproduzido sob a forma de brinquedos de pelúcia, chinelos e grampeadores, entre outros.

O coelho assassino de pelúcia foi classificado como o segundo brinquedo de pelúcia mais nerd de todos os tempos por Matt Blum, do blog GeekDad, ficando atrás apenas do boneco de pelúcia Cthulhu.

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Thiago Meister Carneiro

Jornalista Especialista em Estudos Linguísticos e Literários, 41 anos na cara. Às vezes grava vídeos para o canal "Monty Python Brasil" no youtube e às vezes assiste Monty Python na Netflix. Autor dos livros "A História (quase) Definitiva de Monty Python" e "O Guia da Carreira-Solo dos Membros do Monty Python".

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