Monty Python brasileiro: afinal, alguém merece o título?
Algumas pessoas já me perguntaram qual grupo eu acho ser o Monty Python brasileiro, ou, pelo menos, o que mais chega perto.
Acho que essa é uma dúvida interessante, já que o grupo inglês (que renovou o nonsense e deixou o mundo de ponta-cabeça) influenciou praticamente o mundo inteiro, seja no humor, na música ou, até mesmo, nas relações sociais.
Eu sou fã de Monty Python há cerca de 20 anos, e pesquiso o grupo há quase 6 anos (já lancei até um livro sobre eles!). Então eu fiz um pequeno dossiê, e cheguei a uma conclusão com uma possível resposta.
ÚNICOS
Só lembrando: esqueçam esse negócio de “Monty Python brasileiro”!
Monty Python é Monty Python e ponto. É único no mundo! O que eu proponho aqui é apenas tentar encontrar algo que se aproxime do grupo inglês.
Nota da redação: Não sou o dono da verdade, portanto gostaria de ler a opinião de vocês, discordando ou concordando comigo.
Para isso, afirmo que para chegar a um resultado, analisei não apenas o conteúdo das piadas pythonescas em si, como também a forma como elas foram feitas.
O Monty Python não foi o grupo que inventou o nonsense (pois todos os pythons já afirmaram serem fãs de comédias de rádio dos anos 1950, como Beyond the Fringe, que era puro nonsense), mas eles o reinventaram, usando e abusando do típico humor britânico.
Pensando nisso, analisei a questão com grupos que usam (ou usaram) o típico humor brasileiro. Logo, humoristas de stand-up comedy (típico humor americano), como Rafinha Bastos e Danilo Gentili, estão fora da lista.
E o Porta dos Fundos?
Coloco em questão o grupo Porta dos Fundos, tido por muitos como o Monty Python brasileiro.
Eu já elimino esse grupo de primeira, já que eles usam punchline, e o Monty Python aboliu essa prática desde a sua criação.
Hermes e Renato também já foi chamado de Monty Python brasileiro, o que seria muito justo, devido ao humor escrachado de ambos os grupos.
Mas também elimino, pois o humor do Hermes e Renato não é original (apesar de eu gostar muito deles). É humor vindo das pornochanchadas dos anos 1970 (com muita punchline também).
Os Trapalhões e Mazzaropi também estão fora, pois são comédias populares (mas não menos maravilhosas, que fique claro), vindas da arte circense.
Chico Anísio também está fora, pois sua galeria de mais de 200 personagens o privilegia no mundo do humor, figurando em um lugar de prestígio ao lado de Charles Chaplin, Cantinflas e do próprio Monty Python.
MAS E ENTÃO?
Tá, vou tentar resumir um pouco este estudo.
Repetindo o que eu escrevi ali em cima, o Monty Python usava o típico humor britânico.
E humor típico brasileiro? Do que se trata?
Segundo o historiador Elias Thomé Saliba, autor do livro “Raízes do riso”, o “humor é uma modalidade de experiência tão diversa, tão multifacetada, que é difícil teorizar sobre ele. Mas eu arrisco: eu acho que o humor brasileiro típico é paródico. […] A vida do brasileiro é tão cheia de incongruências que, para fazer humor, ele faz uma paródia da vida real“.
A inglesa Tori Holmes, Especialista em cultura digital, que esteve no Brasil recentemente, afirmou que o humor brasileiro tem “muitas referências próprias, da política, das novelas, com o uso de gírias e linguagem coloquial e regional”.
Então cheguei a uma resposta, pois, se bem me lembro, um grupo que usava muuuuuito esse típico humor brasileiro, era o Casseta e Planeta.
Com suas piadas sexistas e paródias da vida real, o Casseta e Planeta, na minha opinião, é o mais próximo que podemos chamar de “Monty Python brasileiro”.
OBS: Eu colocaria junto do Casseta e Planeta a banda Mamonas Assassinas, apenas levando em consideração que em toda entrevista que os músicos deram, eles tiravam sarro de tudo (inclusive deles mesmos). Ou seja, eles não eram humoristas interpretando, eles realmente eram caras engraçados, assim como os membros do Monty Python.
E você, qual a sua opinião? Quem você acha que chega mais próximo de ser um “Monty Python brasileiro”?
Concordo que Casseta & Planeta foi o grupo brasileiro que mais se aproximou de Monty Python, e também acho que TV Pirata foi o programa de TV mais parecido com Monty Python Flying Circus, e não por acaso tinha muitos quadros escritos pela galera do Casseta.
Mas comentando o assunto com minha mulher, lembramos do TV Pirata.
O TV Pirata tinha sim uma estrutura muito parecida ao Monty Python. Anárquica, verborrágica, destruidora, multi-facetada, muito non-sense.
Mas não era um grupo propriamente. O programa na TV Globo tinha um elenco fixo de atores por temporada e uma equipe de roteiristas bem grande. Os caras do Casseta Popular e O Planeta Diário eram os principais, mas tinha Luís Fernando Veríssimo, o Laerte (ops, a Laerte), Glauco, Pedro Cardoso, muita gente boa.
Quer coisa mais .. mais.. sei lá, que o Barbosa? (Barbosa…). Deixou saudade, era muito bom.
Muitos anos atrás, no antigo site do grupo Casseta & Planeta (de fato, uma fusão dos caras que faziam a revista Casseta Popular e o jornal O Planeta Diário, o Maior jornal do Planeta, todos cariocas que já se misturavam e faziam brincadeiras com artes gráficas) havia uma página dedicada ao Monty Python. Eles faziam loas ao grupo inglês, agradecendo e reverenciando.
Naturalmente incorporaram parte da linguagem no texto que criaram quando foram para a televisão.
Já vi quadros do Hermes e Renato, do Porta dos Fundos e dos próprios Casseta e Planeta que eram quase transcrições de sketches dos Pythons. Situações, uso dos trocadilhos, personagens, enfim, referências sem fim. O que passou de fato é que todo o humor feito em todo o planeta, depois do Monty Python Flying Circus, foi de alguma maneira influenciado pelos ingleses.
Ainda assim, não colocaria o Casseta e Planeta nessa posição. Mesmo em sua melhor fase na televisão, usavam e abusavam de um humor de salão, preconceituoso, machista e homofóbico. Nunca vi nada parecido com o Monty Python; esses até pediram desculpas à Carol Cleveland, a integrante feminina do grupo, pelas vezes que pediram à ela ficar meio despida na frente das câmaras.
Você está certíssimo quando diz “Monty Python é Monty Python é ponto. É único no mundo!”
Não creio que haja nada que possa ficar perto.
Já na Argentina, aqui ao lado, eu teria algumas sugestões. Um grupo que completa em 2016 50 anos de trabalho chamado Les Luthiers. Atuam no palco, e misturam música, seus instrumentos e humor. Criam muitas situações absurdas, mas não chega a ser non-sense. Nunca são ofensivos e é necessário ter algum estofo cultural para rir.