Flying Circus: um esquete que quebra as expectativas
O Monty Python sempre foi conhecido como subversor da ordem do humor e quebra de expectativa. Para o grupo, uma boa piada – para ser boa – não deve ser contada com começo, meio e fim.
Outra característica marcante das piadas do grupo é a inversão dos papéis, tornando-as, assim, o mais nonsense possível e aumentando a expectativa final.
Foi o que aconteceu no episódio 3 da primeira temporada da série Monty Python’s Flying Circus.
Chamado de How to Recognise Different Types of Trees From Quite a Long Way Away (Como Reconhecer Diferentes Tipos De Árvores De Um Longo Caminho), o episódio foi ao ar no dia 19 de outubro de 1969.
SUPERMAN
Um dos esquetes que mais chamam a atenção nesse episódio é o Bicycle Repair Man (O Reparador de Bicicletas), escrito pela dupla Palin-Jones.
É exatamente nesse esquete que ocorre a inversão dos papéis, pois aqui vemos uma cidade cheia de Supermans, todos vivendo tranquilamente, caminhando etc.
A piada começa quando Michael Palin aparece vestido de Superman, e o narrador afirma que ele não é um homem comum.
Logo, associamos a frase “não é um homem comum” com o fato dele estar vestido como o Superman. Mas é aí que nos enganamos!
Ele não é comum pois é o Reparador de Bicicletas num mundo de Supermans.
PIADA
Alguns Supermans (John Cleese, Graham Chapman e Palin) estão numa lavanderia, e um garoto entra correndo pela porta:
Hei! Há uma bicicleta quebrada! Lá na estrada!
Então, o Superman interpretado por Palin se transforma na sua identidade secreta: O Reparador de Bicicletas.
Em uma visível sátira à famosa frase: “É um homem? É um pássaro? É um avião? Não, é o Superman!”, os pythons criaram uma sátira ao que eles consideravam as profissões mais embaraçosas na sociedade britânica:
É um corretor? É um topógrafo? É um guardião da igreja? Não! É um reparador de bicicletas!
E assim, ele repara a bicicleta com suas próprias mãos.
COMUNISMO
Entra, a voz do narrador (Cleese), finalizando o ótimo trabalho do Reparador de Bicicletas com um discurso de ódio:
– Sim! Sempre que uma bicicleta for quebrada ou ameaçada pelo comunismo internacional, o Reparador de Bicicletas estará pronto. Pronto para esmagar os comunistas, derrotando-os e empurrando suas caras na terra. Acabando com a suja escória vermelha. Chutando eles nos dentes, aonde dói. Mate! Mate! Mate! Comunistas bastardos! Eu os odeio! Eu os odeio! Ah!
E seu discurso é interrompido pelo chamado de sua esposa:
O chá está pronto!
E o narrador tem uma reação bem estilo Monty Python, que quebra qualquer expectativa.