Colunista compara ‘O Sentido da Vida’ com o Brasil
Padre Beto, colunista do jornal Bom Dia, escreveu um artigo sobre o filme O Sentido da Vida em que faz um retrato do Brasil e o comportamento do brasileiro:
“O humor inteligente que caracteriza os filmes do grupo Monty Python está afiadíssimo nas histórias de O Sentido da Vida. Neste filme, o grupo de comediantes britânicos satiriza a medicina, as igrejas, os militares, o sexo, e tudo o que é levado a sério demais pela maioria dos seres humanos. A ousadia lhes valeu o Prêmio Especial do Júri no Festival de Cannes.
O que mais chama a atenção nesse filme é a coragem de tratar de temas que praticamente são dogmas ou tabus em nossas vidas, ou seja, são verdades estabelecidas como absolutas ou verdades que não são nem tematizadas.
SOCIEDADE
Se prestarmos atenção em nossa vida prática nos surpreenderemos com as contradições que vivemos. Essas contradições existem porque aceitamos as regras, verdades e situações já solidificadas na sociedade. Acabamos vivendo em uma sociedade da hipocrisia.
Se olharmos para a nossa vida iremos constatar que, apesar de nossas famílias terem filhos, nossos pais nunca fazem sexo. Aliás, papai e mamãe são seres assexuados e, sendo assim, nem podemos imaginá-los naquelas posições sexuais que os adultos gostam de curtir na cama.
Os casais religiosos (pelo menos os de classe media) do Brasil nunca utilizam pílulas anticoncepcionais, laqueadura ou vasectomia para um planejamento familiar. É claro que os jovens das Igrejas não se masturbam e muito menos fazem sexo antes do casamento. Por isso, não precisam também de uma educação sexual, isso é obvio.
Vivemos em uma sociedade que mantém financeiramente com nosso dinheiro um exército para nos proteger de uma suposta guerra com algum outro país que queira nos invadir, comemoramos no dia 7 de setembro nossa incrível independência e como patriotas independentes curtimos nossa música e valorizamos nossa cultura brasileira, por exemplo, ouvindo Michel Teló nas rádios.
Enfim, vivemos em uma sociedade que discute seriamente como extinguir o narcotráfico, ao invés das religiões manterem clínicas para dependentes. Eu poderia continuar a descrever a nossa situação, mas o melhor é deixar com que o leitor continue a perceber as outras contradições ou criticar o autor de revoltado ou tagarela. Afinal, é muito bom viver de ilusões, até o dia em que as consequências destas nos causem algum mal”.